sexta-feira, 12 de abril de 2013

Muita agulha que ainda quero colocar nesse palheiro

Tal qual ao poema Reticências* de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa), estou assim no Agulha Perdida. Tanta coisa para colocar aqui, tanta agulha a ser resgatada, revivida e expressada.

Já possuo uma lista BEM GRANDE de coisas para colocar ainda neste espaço. Agulhas que achei há muito tempo e outras que saltaram para mim recentemente. Coisa boa e interessante. O maior impeditivo é que não tenho tido tempo para organizar tudo aqui. Então, essa postagem virou mais um mural de desabafo do que uma agulha perdida na arte.


Desabafo MODE ON
Bom, estou no meio de semestre, organizando as montagens dos alunos que apresentarão entre Junho e Julho. Ao total são cinco turmas entre 7 a 13 anos. Estamos na fase de ensaios das peças, algumas estão mais adiantadas que as outras, como sempre. Quero um dia, poder divulgar com calma tudo o que foi desenvolvido em conjunto com eles. Em breve, colocarei os nomes das peças. Muito mais que o resultado, o processo é o que mais interessa. Desabafo MODE OFF.



*Reticências, de Álvaro de Campos

Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na ação. 
Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado; 
Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa!
Vou fazer as malas para o Definitivo, 
Organizar Álvaro de Campos, 
E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem - um antes de ontem que é sempre...
Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei.
Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir...
Produtos românticos, nós todos...
E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada.
Assim se faz a literatura...
Santos Deuses, assim até se faz a vida!

Os outros também são românticos, 
Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres, 
Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar, 
Os outros também dormem ao lado dos papéis meio compostos, 
Os outros também são eu. 
Vendedeira da rua cantando o teu pregão como um hino inconsciente, 
Rodinha dentada na relojoaria da economia política, 
Mãe, presente ou futura, de mortos no descascar dos Impérios, 
A tua voz chega-me como uma chamada a parte nenhuma, como o silêncio da vida...
Olho dos papéis que estou pensando em arrumar para a janela, 
Por onde não vi a vendedeira que ouvi por ela, 
E o meu sorriso, que ainda não acabara, inclui uma crítica metafísica.
Descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar,  
Fitei de frente todos os destinos pela distração de ouvir apregoando, 
E o meu cansaço é um barco velho que apodrece na praia deserta,  
E com esta imagem de qualquer outro poeta fecho a secretária e o poema...
Como um deus, não arrumei nem uma coisa nem outra...

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